Dia 25 de Julho de 2010, um domingo de sol, uma tarde inesquecível.
No bar do Seu Tavinho foi servida a famosa feijoada do Pé Grande preparada com carinho pela Sueli.
A atividade contou com inúmeras presenças, entre elas, Alcides Amazonas e Tobias da Vai-Vai, uma roda de samba que fechou a rua foi uma das atrasões da festa que contou ainda com uma "palhinha" do samba para o Carnaval 2011.
Quem não foi, perdeu, mas haverão outras oportunidades, enquanto isso, aproveite e relembre o samba que garantiu o 3º lugar no Grupo Especial de Blocos do Carnaval de São Paulo em 2010. (clique aqui para ouvir)
Nos estudos do folclore, o mito trata da descrição de fenômenos, seres ou ocorrências relatadas como sobrenaturais e suas ações serem identificadas no céu, na terra e na água. Os mitos normalmente são amigos, quando eles se apresentam como assombração, as vezes, a utilizam para afugentar os predadores que entram nas matas e florestas com o objetivo de destruição. A maioria dos mitos no Brasil tem sua origem indígena. Normalmente a representação de fatos ou personagens reais, são exageradas pela imaginação popular.
MULA SEM CABEÇA
Diz a lenda que Muleca linda filha de Avanhanda antes dos 15 anos, se apaixonou pelo valoroso guerreiro Guaiaré, casaram-se. Certo dia foi seduzida na beira do Rio Xingu pelo semi-deus Urutantã. Tupã sabendo da traição da infiel mandou puni-la, transformando-a numa Mula Sem Cabeça. Na voz do povo a índia se transformou em mulher do padre, que foi amaldiçoada.
SACI PERERÊ
Entidade encantada que se diverte fazendo travessuras como: escondendo brinquedos e objetos, soltando animais dos currais e derramando sal e outras coisas nas cozinhas, mas toma conta das crianças. Está sempre pedindo fogo aos passantes para acender seu cachimbo e só aparece quando quer.
NEGRINHO DO PASTOREIO
É uma lenda meio africana, meio cristã. Nos tempos da escravidão ele vivia numa fazendo de um homem muito malvado. Um dia quando voltou da lida faltava um cavalo baio, foi espancado e amarrado num formigueiro. O malvado no outro dia foi vê-lo e tomou um susto com a visão. O menino estava são e salvo ao lado de Nossa Senhora do Baio e o rebanho, o homem pediu perdão, mas o garoto nada respondeu. Beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu com o rebanho.
IARA - MÃE D'ÁGUA
Iara a jovem tupi mais formosa das tribos que viviam próximo ao Rio Amazonas. Todos os seres à amavam, plantas e bichos. Numa tarde quando se banhava, foi surpreendida por homens estranhos que à violentaram e jogaram no rio. O espírito das águas a transformou em sereia, seu canto atrai os homens de maneira irresistível. Ao vê-la eles se aproximam dela, que os abraça e os arrasta para as profundezas das águas e nunca mais voltam.
LOBISOMEM
Segundo a lenda o lobisomem é um ser que seria resultado de uma reza poderosa feita numa noite de sexta feira de preferência lua cheia. Num estábulo de burro ou cavalo no qual a pessoa rola como se fosse um animal, dizendo reza que é feita com o pacto de entidades malignas. Também numa encruzilhada onde a pessoa repete os mesmos atos do animal. Na zona rural ele é o sétimo filho homem de um casal. Antes do amanhecer ele sempre procura um cemitério e lá volta a sua forma humana.
CURUPIRA
É um mito do Brasil que os índios guaranis já conheciam desde o descobrimento. Índios e jesuítas o chamavam de protetor da caça e das matas. É um anão de cabelos vermelhos com pelos e dentes verdes. Como protetor ele costuma punir os agressores da natureza que mate por prazer. Seus pés são voltados para trás para despistar os caçadores, deixando-os seguir rastros falsos. Quem o vê perde o rumo, e não acha o caminho de volta. Uma carta do padre Anchieta em 1560 dizia! Aqui há certos demônios a que os índios chamam de Curupira. Os índios para lhe agradar deixavam nas clareiras penas, esteiras e cobertores.
VITÓRIA-RÉGIA
Os pajés tupi guarani contavam que no começo do mundo, toda vez que a lua se escondia no horizonte, ia viver com as jovens e se gostasse de uma delas, a transformava em estrela do céu. Nayá filha de um chefe ficou impressionada com a história, passou a perseguir a lua querendo virar estrela. Numa noite ela viu a imagem da lua num lago, se jogou nas águas achando que a lua veio buscá-la. A lua para recompensá-la pelo sacrifício a transformou em estrela das águas, branca e perfumada que só abre ao nascer do sol.
BOI TATÁ
Dizem que Boi Tatá era uma espécie de cobra que foi o único sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu toda a terra. Para escapar ele entrou num buraco e lá ficou no escuro, assim seus olhos cresceram. Desde então anda pelos campos em forma de cobra com os olhos flamejantes, as vezes como um facho cintilante de fogo correndo de um lado para o outro da mata. Em alguns lugares do nordeste é chamado também de cumadre fulozina.
BOTO COR DE ROSA
A lenda do boto é mais uma crença. Contam que nas noites de festas juninas, enquanto as pessoas estão distraídas celebrando, o boto rosado aparece transformado em um bonito e elegante rapaz, mas usando chapéu porque sua transformação não é completa, pois sua narina fica no topo da cabeça fazendo um buraco. Ele conquista a primeira jovem bonita e leva para o fundo do rio, e engravidando-a. Por isso quando uma jovem engravida e não se sabe quem é o pai, é comum dizer ser "do boto".
COMPOSITORES: ROBERTINHO DA TIJUCA/ WAGNER DO CAVACO/ BAHIA/ CHAMEGO
Os índios eram os donos da terra, livres, percorriam os rios e florestas de onde tiravam o sustento para o seu povo, cultuavam e festejavam seus mitos; os Deuses da força da natureza e seus antepassados comandados pelos Caciques Tiburiça e Caiubi. Em época das festas, se dirigiam para a nascente do Rio Anhangabaú, local sagrado, onde cantavam e dançavam agradecendo a vida, a fartura e o bom tempo.
Conta a história que existiam várias trilhas formadas por eles e que uma delas passava pela Consolação e depois de atravessar um morro de granito coberto de florestas, desciam até o Rio Pinheiros e iam até Cuzco no Peru em busca de prata
PORTUGUESES, RENEGADOS E JESUÍTAS
Desembarcavam no litoral, chegavam ao Brasil depois do descobrimento em busca da riqueza sonhada e prometida, pobres em sua terra, muitos renegados que eram libertados da prisão para vir povoar a nova terra. Com eles chegavam também os Jesuítas em busca de almas para salvar em nome de Deus.
Do litoral partiram os portugueses pobres, os renegados e os jesuítas para o interior, desbravaram a Serra do Mar e chegaram em um lugar que consideraram paradisíaco; eram florestas cortadas por vários rios, com alguns relevos montanhosos baixos.
Padre Manoel da Nóbrega pensa em criar colégio religioso e para isto era necessário negociar com os donos da terra, os índios. Depois de conseguir convencê-los consegue autorização dos Caciques Tibiriçá e Caiubi e funda o Colégio Jesuíta, e foi em torno deste Colégio que começou a surgir a Cidade de São Paulo, ex São Paulo de Piratininga.
COMPOSITORES: Robertinho da Tijuca/ Bahia/ Wagner do Cavaco
Índios. Eram os donos da terra. Tupis, guaranis bororós, e muitos outros que povoaram estas paragens, viviam livres entre os rios e as florestas, cultuando seus ancestrais e preservando seus rituais e suas tradições.
Brancos. Primeiro os portugueses. Possuíam o domínio dos mares e corriam mundo afora e um dia aportaram por aqui, descobridores ou invasores? Descobriram o que já existia e tomaram posse da terra que já possuía donos. Com eles veio o regime de escravidão, e os índios guerreiros, subjugados pelas armas foram transformados em escravos.
Negros. De várias etnias de todas as partes do continente africano. Vieram forçados, entre eles reis e rainhas, trazidos como mercadoria para engrossar o continente de escravos indígenas.
É desta mistura caudalosa de raças que surge a nacionalidade brasileira. Miscigenada. Transformando o Brasil no país de todas as raças. E desta mescla com freqüências e contribuições distintas que nasceu a cultura brasileira, formada pelas milenares lendas e rituais indígenas, pelas tradições, as danças, os ritmos, a religião e idiomas dos africanos; e os valores europeus.
E esta terra se transformou em um imenso caldeirão cultural com valores recriados pelo sentido lúdico do povo, como o Tambu, Reisado, Bumba Meu Bou, Caiapós, Cucumbi, Samba, Festa do Divino, Maracatu, Samba de Lenço, Jongo, Cavalhada, Escola de Samba; porque homens de todas as culturas aprenderam a celebrar estendendo para muito além do cotidiano a experiência da vida social, e festivo se uniam para festejar a boa colheita ou cultuar seus deuses.
Inúmeras vezes, irmanados pelo mesmo ideal uniram forças na busca da liberdade e da dignidade, no entanto este país formado por três ralas tem uma visão eurocentrica da sua realidade, e negros e índios que tanto contribuíram para sua nacionalidade, continuam apartados do desenvolvimento social transformados pela sociedade em seres invisíveis e colocados à margem do mercado de trabalho e da produção. Tornando-se obrigatoriamente necessário uma redefinição dos valores sócio-culturais e políticos como forma de terminar com as desigualdades, buscando a igualdade de oportunidades para que este país deixe de ser um planeta branco e renasça com novos valores calcados na sua mistura de raças, como nação.
COMPOSITORES: PAULINHO IMPRENSA/ ROBERTINHO DA TIJUCA
Vindos da África distante, no período de escravidão, milhares de negros de várias etnias aqui foram fixados como escravos.
Apesar da violência da escravidão, os negros mantiveram suas culturas, suas crenças e valores religiosos, e tudo fizeram para preservá-los.
Os negros Bantos de caráter festeiro, logo se apropriam do calendário católico e com os Iorubás, Haussas, Malês e outros, buscaram através do sincretismo cultural novas formas para suas tradições e festejavam pelas ruas de Salvador os santos dos brancos com os Orixás dos negros.
E foi em Salvador, no ano de 1854 que nasceu Hilária Batista de Almeida, que ficou famosa na cidade do Rio de Janeiro pela sua grande contribuição aos rumos e desenvolvimento do samba, ou melhor, da música popular brasileira.
ENREDO
Assiata, Siata, Aciata, Ciata. Várias formas de grafar o nome e uma só mulher. Quituteira, doceira, partideira, festeira. Esta era Ciata de Oxum, feita no Santo, de Oxum, Orixá que expressa a própria essência da mulher, patrona da sensualidade. Assim era Sinhá Ciata, que mostrava o ritmo do corpo aos requebros, no miudinho, no samba de roda, e que cantando respondia o refrão mantendo o samba vivo.
É em sua casa que nasce o Rancho Rosa Branca e o Bloco O Macaco é Outro, bloco que nasce para brincar, fazer galhofa.
"Já surgiu meu macaquinho
Coitadinho
Quem nos dará razão
Que macacão"
Cheia de prestígio, de crescente sabedoria religiosa, Ialorixá festejada, em sua casa primeiro no Valongo e depois na Praça 11 convivia o religioso e o profano, com o samba na sala e o candomblé no terreiro, e se transformou pela boca dos negros, na Capital da Pequena África. Por sua respeitabilidade ajudada pelo marido funcionário público o que era respeitado na época, o espaço de sua casa era garantido; -sem a costumeira "batida da polícia", que proibia a manifestação dos negros - como local de afirmação do negro e onde se desenrolava atividades coletivas de organização, onde a vida dedicada ao trabalho não perdia a grandeza da alegria. Bem humorada atendia a todos que a ela ocorriam, e a quituteira Rainha mantinha as panelas sempre fumegantes para alimentar os corpos e avivar as almas no processo criador. Mas não bastava por isso ela levava seu tabuleiro de cocadas e outros doces para a Rua Sete de Setembro, Rua da Carioca, para que todos tivessem o privilégio de provar seus predicados.
As danças de cucumbis e os afoxés dos terreiros de candomblés ressurgiam em novas versões pelas mãos e criatividade dela e dos que a cercavam.
"O Peru me disse
Se o morcego visse
Eu fazer tolice
Que eu então saísse
Dessa esquisitice
De disse que não disse"
Era o primeiro samba gravado, a fazer sucesso, "Pelo Telefone" composto na casa de Sinhá Ciata, lá estavam Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Donga, que nas rodas de samba aprendiam as tradições musicais e buscavam novas formas que transformou no samba, na música popular brasileira.
Com o respeito à liderança negra da época, com o Jovino o "Lalau de Ouro", os Ranchos em desfile passavam em sua porta prestando homenagem a Bamba Ciata, que como um rainha os saudava. Lá na sua África particular se reforçava os valores do grupo, reafirmando o passado cultural e a vitalidade criadora. A religião e a música era o pólo catalisador da vida, do trabalho, do lazer, da solidariedade e da consciência. Era a recriação da África na pequena África particular criada por Sinhá Ciata.
COMPOSITORES: PAULINHO IMPRENSA/ ROBERTINHO DA TIJUCA
O Bloco é o Ile Aiyê, o Bloco mais negro do Brasil, da cidade de São Salvador, Bahia que teve seu nome escolhido obedecendo os preconceitos da religião e da cultura negra de origem Nagô.
Ile = Casa, morada, templo. Aiyê = Nosso mundo ou este nosso mundo. Assim o nome pode ser traduzido para nossa casa, nosso mundo ou nosso templo.
O Bloco Ile Aiyê, como as sociedades secretas Nagôs, como Ogboni, Gueledes, é importante fator de mobilização conta a opressão política cultural.
O primeiro Bloco afro da Bahia nasceu em 1º de novembro de 1974, no Curuzu, Liberdade, Bairro de maior população negra do Brasil.
Seu objetivo maior de preservar, valorizar e expandir a cultura afro-brasileira vem sendo alcançada nestes 24 anos, em que a temática de seus enredos é sempre negra, seja contando a história do continente africano, sua cultura e seus povos, ou contando a história do negro no Brasil, forma de marcar a auto-afirmação, valores e a dignidade do negro.
O Ile Aiyê educa com artes, cultura e principalmente com alegria, através de seu ritmo diferente que toma conta dos sentidos, do corpo. Com seu vestuário que buscou na releitura dos panos da costa, do alagba, permeando a transmissão do passado da ancestralidade africana com a realidade do negro no Brasil hoje, e que resultou em novas formas para os panos batas, torços, turbantes e adereços. E na variedade gestual dos orixás, buscou uma leitura própria da dança e da gestualidade negra e assim revolucionou o carnaval da Bahia, fazendo-o assumir uma cara mais negra, forma de realidade pela cultura que a Bahia é sim grande pedaço da África deste país mestiço.
O Bloco Ile Aiyê não é só Carnaval, o Ilê Aiyê é festa o ano inteiro. Festa de cultura de formação, de educação, buscando preparar o negro de hoje e amanhã para a resistência à ideologia dominante e para isto busca práticas alternativas ao poder vigente, ocupando espaços e lugares imprevistos.
Festa de Iemanjá, Festa da Mãe Preta onde busca incentivar a integração da mulher negra na sociedade por fim a festa maior da negritude baiana a "Noite da Beleza Negra" na terra dos orixás é o momento da escolha da Deusa de Ébano que desfilará no lugar de honra como rainha do Bloco Ilê Aiyê. O Ilê Aiyê descendo do Barro Preto do Curuzu é o Quilombo de hoje, Quilombo de cultura e da afirmação da dignidade do negro.
COMPOSITORES: PAULINHO IMPRENSA/ ROBERTINHO DA TIJUCA
Oriente Pequeno, Oriente Grande, Cambinda Nova, Estrela Brilhante, Cambinda Velha, Porto Rico, Sol Nascente, Leão Coroado.
Elefante: Onde estão as Calungas e a rosa Aluanda.
É o Maracatu que chegou. É o ciclo de festa tempo de carnaval, quando as pessoas se transformam em personagens, usando máscaras, fantasias, exibindo alegria, deixando a dança tomar conta do corpo.
Maracatu. Nascidos na devoção de Nossa Senhora do Rosário e na dignidade de Xangô. Religiosidade e festa de rua fazem os desfiles de rei e rainha, de dama do paço, de damas buquê, lanceiros, porta-lanterna, baianas, dama da corte, carregadores de pálio, de batuqueiros, porta-estandartes que formam as cortes africanas.
Origem? A festa da coroação do Rei Congo, de etnia banto que os escravos trouxeram para o Brasil, aqui já vivencialmente afro-pernambucano, nordestino, tropical e por tudo isso de feição nacional.
"Meu Maracatu
É da Coroa Imperial"
É de Império, é de Reino, de Rei, de Rainha, a Nzinga Moandi, Rainha de Matamba, de Angola que reuniu todas as etnias e se erguei contra os portugueses com todo vigor buscando a liberdade do seu povo, e hoje tem a figura reverenciada na personagem da Rainha do Maracatu.
Em seus desfiles em estruturas de cortejos reais estão ainda vivo o ideal da liberdade, e São Paulo de Luanda em Angola, fixou-se no sonho de Aruanda - a terra prometida no desejo de retorno à África, de chegar além-mar. Por isto a tradição faz os desfiles prestar homenagem às águas, como se dançassem, contassem e tocassem para se fazer ouvir por Iemanjá e Oxum, as águas, ou os ventos e reaios de Insã e Xangô, e por isto cantam:
"Eu vou pra Luanda
Buscar miçanga
Pra Saramurá"
Assim um fio se liga ao passado africano, confirmando com o hoje brasileiro, numa composição hibridadas duas terras.
COMPOSITORES: PAULINHO IMPRENSA/ ROBERTINHO DA TIJUCA